
A ressignificação diante da perda
A morte é a única certeza que temos da vida, sendo um fato inevitável e inerente ao ciclo dos seres vivos, bem como nascer e crescer. Entretanto, na sociedade ocidental, a morte é pouco discutida, sendo excluída do âmbito social, uma vez que traz incômodos, principalmente porque ela nos coloca em contato com a nossa finitude gerando angústia e ansiedade.
O luto
Em uma revisão da literatura sobre luto, fica claro que não existe uma definição universal de luto, entendemos que isso acontece por ser um processo complexo e individual para cada sujeito. Embora não haja consenso sobre uma definição única, vários termos como período de abstinência, resposta esperada e natural e quebra de vínculo são frequentemente mencionados.
Quando a maioria de nós pensa em luto, relacionamo-lo com a perda de um ente querido, porém, o luto reflete a quebra de um ciclo, ou seja, o luto pela perda de uma pessoa, perda de um emprego, fim de um relacionamento, etc.
Nesta linha de pensamento, consideramos o conceito:
“O luto é o processo inevitável de superar uma perda e todas as pessoas que perdem um ente querido tendem a passar por isso. É um processo natural que ocorre em reação à ruptura de um vínculo.” John Bowbly (1990 apud BASSO; WAINER, 2011).
Dessa forma, o luto é uma adaptação à perda, ou seja, é a reorganização da nossa vida diante dessa perda. É um processo que requer cuidados, pois é uma das experiências mais dolorosas vivenciadas pelo ser humano. Esse processo é permeado pelo tipo de morte, pelo nível de afinidade e pelos recursos internos disponíveis que possibilitam a elaboração do luto normal ou patológico.
Entendemos aqui que o luto normal é caracterizado por uma resposta saudável à perda de um ente querido, como a capacidade de enfrentar o luto e expressar a dor. Quando os recursos de enfrentamento são escassos, pode levar ao processo de luto patológico.
Algumas reações comuns em um processo de luto
- Sentimentos: tristeza, ansiedade, solidão, raiva, culpa, cansaço, saudade.
- Pensamentos: pensamentos confusos, sensação de que a morte não aconteceu, preocupações e lembranças que invadem a mente.
- Sensações físicas: aperto no peito e na garganta, falta de energia, boca seca.
- Comportamentos: alterações no sono e no apetite, agitação, choro, sonhos, evitação de lembranças.
O luto patológico diz respeito às manifestações de sintomas físicos e mentais que levam à negação e repressão da dor pela perda. Essas pessoas se obrigam a abandonar o luto antes mesmo de concluí-lo, não expressando sua tristeza e não se permitindo vivenciar tal experiência e, como consequência, sentem-se mais deprimidas e solitárias.
Este luto não vivenciado pode levar o sujeito ao profundo sofrimento, quando esse processo de luto se prolonga pode causar problemas de saúde, distúrbios psíquicos, depressão, ansiedade, etc
As fases do luto
Embora o luto seja um processo muito particular, não existe um padrão único para o enfrentamento das perdas, podemos perceber alguns pontos comuns na maioria das pessoas, o que chamamos de estágios do luto, que é um modelo descritivo proposto por Elizabeth Kübler-Ross, referência em o assunto. As fases do luto são compostas por: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Negação
É a primeira fase do luto e se manifesta como uma defesa psíquica, onde a pessoa se recusa a acreditar no ocorrido e de alguma forma tenta não entrar em contato com a realidade, evitando falar sobre o assunto. É uma fase de intensa dor e dificuldade em lidar com a perspectiva da ausência.
Raiva
A segunda fase é caracterizada pelo sentimento de revolta com o mundo e com todos, onde o indivíduo se sente injustiçado e não aceita o que está acontecendo. Há uma ligação com a realidade e a percepção de que não é possível reverter a situação.
Negociação ou Barganha
Na terceira fase, a pessoa negocia consigo mesma. É uma tentativa de aliviar a dor e pensar em possíveis soluções para sair daquela situação. Normalmente está relacionado a uma situação religiosa e promessas a um Deus.
Depressão
Nesta quarta fase, a pessoa se retrai em seu mundo interno, onde começa a se isolar e a se considerar impotente diante do ocorrido. Geralmente é a fase mais duradoura do processo de luto, caracterizada por sofrimento intenso.
Aceitação
Quinta e última fase do luto, o indivíduo não se sente mais desesperado e agora consegue ver a realidade como ela é. Assim, a assimilação e a aceitação completa da perda ou morte ocorrem de forma consciente.
Sem dúvida, o processo de luto é dinâmico e proporciona sofrimento e provoca mudanças em todos os âmbitos da vida do sujeito, principalmente no contexto social em que a pessoa enlutada está inserida. Porém, a intensidade das reações ou o prolongamento do luto serão influenciados pelo tipo de vínculo que o sujeito mantinha com o ente querido.
Além disso, a elaboração de outras perdas anteriores e crenças em relação à morte também podem ser fatores que interferem no luto.
O luto é superado aos poucos. A vida está voltando ao normal, à alegria e ao prazer nas pequenas coisas do dia a dia. Mas se esse luto continuar por mais tempo do que o esperado, é necessário procurar ajuda, procurar um profissional qualificado, psicólogo ou psiquiatra para uma avaliação, pois eles possuem ferramentas que podem te ajudar a lidar com essa dor.
Se você está passando por um processo de luto, procure ajuda! Independente da sua perda, nós psicólogos estamos aqui para te acolher nesse momento de profunda tristeza, oferecendo-lhe escuta ativa e disponibilidade emocional para te ajudar a ressignificar essa perda.